Criativo da semana

Billy Espíndola Schlösser é cantor, guitarrista e compositor cuiabano. Ao longo dos anos, vem consolidando uma carreira original, com forte influência da cultura mato-grossense. Agregou um elemento bastante original ao seu trabalho autoral, quando desenvolveu a GUITARRA DE COCHO.

As cinco cordas da viola de cocho – composta por quatro de tripas animal e uma de aço – na inovação proposta todas as cordas são de aço. O instrumento, cujo som embala as rodas de cururu e siriri no estado, agora pode soar rock’n’roll.

Chamada por ele de ‘Original’, a primeira guitarra de cocho de que se tem notícia foi feita por uma questão de necessidade. Guitarrista e vocalista da dupla Billy Brown e o Incrível Magro de Bigodes (‘Eu sou o Billy’, ressalta), ele queria que o primeiro álbum deles tivesse um forte elemento cultural regional.

“Eu queria trazer Cuiabá pra dentro da banda. Não sabíamos ainda qual instrumento, mas tinha que ser algo daqui. A viola de cocho é percussiva, não é harmônica e nem melódica. E o que eu precisava, mais do que tudo, era de uma harmonia numa melodia. Eu nem tinha pensado nesse som dela. E aí veio a grande ideia: ‘Cara, e se eu colocar um captador nela?’”.

Então, ele foi até uma loja de artesanato e comprou uma viola de cocho. Entretanto, o produtor musical ainda tinha certas restrições ao instrumento.

“Nunca tinha tocado em uma viola de cocho. Eu nem gostava do som, para você ter uma ideia. É um instrumento que parou na evolução, é tribal. É mais percussivo”, confessa. Ainda assim, arriscou, usando a própria experiência adquirida na regulagem de instrumentos. Instalou o cordal de um cavaquinho. Depois, colocou cordas de nylon, mas o som não ficou legal.

Na segunda tentativa, escolheu quatro cordas de guitarra que achava que dariam um bom equilíbrio e deu certo.

“Fiquei chocado. Ela responde diferente. Tem muita coisa que é particular e peculiar dela. Achei muito legal. É um campo totalmente novo”, conta.

Esse foi o primeiro instrumento criado pelo músico, que é autodidata, cresceu em família evangélica e começou a se interessar por música aos 8 anos de idade.

As adaptações na viola de cocho poderiam ser vistas quase como uma heresia por parte da população mais tradicional e Espíndola sabia disso. A prova de fogo à qual ele e a ‘Original’ se submeteram foi na abertura do Festival de Siriri e Cururu, na última semana, em Cuiabá.

“Eu estava muito nervoso. Porque eu sabia que os caras que estariam lá são referência. Se eles me xingassem, todo mundo ia me xingar”, admite o músico. A reação, entretanto, foi positiva. “Os caras gostaram muito! Adoraram! E estou falando dos ribeirinhos mesmo, com chapéu de palha e viola de cocho grandona. Esses caras é que eram importantes pra mim”, diz.