Raízes e formação

Bruno é graduado em Teatro pela UNEMAT e em Letras – Português e Literatura pela UFMT, onde atualmente também cursa uma pós-graduação em Antropologia Social. A pesquisa e a prática caminham juntas: sua arte nasce da escuta atenta do corpo, da vivência transmasculina e das urgências sociais que o atravessam.

Sua trajetória como artista plástico foi levada ao público com a exposição “Manga Coração de Boi”, em 2021, contemplada pela Lei Aldir Blanc. Depois, criou a websérie “De Cara com o Sol”, com apoio da Lei Paulo Gustavo, e se prepara para lançar sua nova exposição, “Homem-mato”, também com incentivo estadual.

Entre o Cerrado e a transmasculinidade

“Manga Coração de Boi” foi a primeira mostra individual de Sol Ferreira. A exposição aconteceu no Centro Cultural Casa das Pretas – IMUNE MT e foi construída a partir de materiais recicláveis e elementos orgânicos, como sucatas e restos urbanos. O nome faz referência à fruta do Cerrado e à sua conexão afetiva com a terra e com o próprio corpo. Os temas centrais da exposição incluem necropolítica, gênero, sexualidade e regionalismos.

Já “De Cara com o Sol” é uma websérie documental com cinco episódios disponíveis no YouTube. O projeto visa democratizar o acesso à informação sobre a mastectomia masculinizadora, trazendo relatos e orientações práticas sobre o processo. A série também reúne falas de profissionais da saúde, com linguagem acessível e acolhedora, para orientar jovens trans que buscam compreender melhor o procedimento.

Um novo ciclo: HOMEM-MATO

Bruno revela, com exclusividade ao MT Criativo, que sua próxima exposição se chama “Homem-mato” e será lançada em novembro, no Museu de Etnologia e Arqueologia da UFMT (MUSEAR). A mostra tem inspiração psicodélica, traços da cultura mato-grossense e um mergulho mais profundo em sua vivência pós-transição. O neologismo “Homem-mato”, escolhido pelo próprio artista, é uma junção simbólica que reflete transformação e enraizamento.

A exposição também contará com a presença de Cacíque Majur, mulher trans, modelo e indígena bororo, fortalecendo o compromisso de ambos com a diversidade e com a ancestralidade.

“Quero ampliar o discurso como artista trans mato-grossense. Meu objetivo é falar sobre transmasculinidades e, ao mesmo tempo, dialogar com os símbolos da minha terra”, explica.

O papel das políticas públicas

O Sol Ferreira reforça a importância dos editais públicos, especialmente aqueles voltados à população LGBTQIAPN+ e negra. Segundo ele, as políticas culturais são uma forma de reparação histórica e uma ponte para que artistas de territórios marginalizados manifestem sua voz e se sustentem.

“O apoio estatal possibilita que a arte aconteça. É o que me permite viver do que produzo, mostrar meu trabalho e criar conexão com o público”, afirma.

Dicas para quem deseja empreender com criatividade

Com sinceridade, Bruno compartilha os desafios de ser artista e empreendedor: “Empreender não é fácil. Tenho dificuldades com comunicação e networking, mas sei que são essenciais. Não basta entender de arte: é preciso estudar formas de divulgar o que se faz, criar redes, estar em espaços que dialogam com o seu trabalho.”

Ele aconselha novos criadores a conhecerem seu público, participarem de feiras e eventos, trocarem experiências com outros artistas e buscarem apoio em professores, amigos e profissionais da área. “Cada conversa, cada oficina, cada projeto coletivo é uma oportunidade de aprendizado.”

E conclui: “Pensar criticamente sobre o que fazemos, planejar bem cada passo e nos conectar com quem veio antes são formas de crescer com responsabilidade e propósito.”

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